"Então hoje nos vamos traçar a Nicole!"
Espera. Isto não é o que você está imaginando. Não, este texto não é um "revival" de uma pornochanchada dos anos 80, mas sim como conheci o programa de exercícios que não só modificou meu corpo mas também a forma como encaro a vida.
Era dia 3 de julho de 2012, um dia como qualquer outro. Rosca direta, cadeira flexora, supino, e tudo mais que esperamos de um dia em mias uma academia em que todo mundo vai atrás de um corpinho e algumas fotos no espelho.
Cansado daquela mesmice, entre uma e outra repetição, resolvi reparar nas pessoas ao meu redor: ao meu lado, o senhor de idade que ainda se sente jovem com sua regata três números menores, no bebedouro a geração "sempre com meu fone não importa onde eu estiver" e no restante do ambiente todas as outras caras entediadas que apenas estavam lá pois sentiam a pressão do padrão estético atual.
Eu não sei se foi a chuva, se eu estava tendo um dia ruim ou se tinha me enjoado de tudo aquilo, mas naquele momento senti que tinha de fazer algo por mim e sair daquela monotonia!
Comecei a me indagar: desde quando nós deixamos de nos preocupar em estar saudável e nos divertir? Por temos que nos submeter a este modelo de aparência através de horas de você, espelhos, você denovo e suas máquinas?
Se olharmos a história do "fitness", os homens procuravam estar saudáveis porque eles necessitavam sobreviver através da caça e da coleta. Este padrão de busca pela subsistência exigia um altíssimo nível de condicionamento físico e atingir este nível consistia de diversas formas de atividades. Sim sobreviver envolvia ser forte, rápido, flexível, ou seja, ter em equilíbrio todas suas capacidades físicas. E se você pensar isso provavelmente era muito mais interessante do que correr na esteira fazendo cara de "gatinha".
Mais triste que a "esteira de cada dia", é pensar que a maior parte de sua rotina de exercícios atual provavelmente não tem te preparado para os desafios da vida. Eu sou prova disso. Depois de me cansar da malhação padrão comecei a pesquisar alternativas e foi assim que me deparei com o CrossFit. Acreditem, em muito pouco tempo percebi que a minha forma física era apenas um corpo aparentemente em forma.
De acordo com seu fundador, Greg Glassman, CrossFit é "uma abordagem mensurável de uma ótima definição do que viria a ser boa forma" ou em outras palavras, um programa que incorpora as melhores habilidades e adaptações de uma variedade de disciplinas, incluindo esportes, atividades físicas, recreativas. No CrossFit sempre é priorizado os movimentos funcionais, combinando estes em um programa que tem a variedade e a intensidade como sua meta.
No dia seguinte após o meu "Não aguento mais esta vida de academia" decidi pesquisar na internet diferentes alternativas, e honestamente, só via o mesmo do mesmo.
Aos meus olhos, tudo parecia igual, o que mudava era o marketing mais ou menos bem feito. "Insanity", "P90X", "Treino do Schwarzenegger", e de repente, o "Google Ads" me deu o melhor conselho de todos. Ao lado direito superior da página havia um pequeno quadradinho dizendo "Você está pronto para testar sua forma física? Reebok CrossFit Miami Beach".
Não sei porque, mas aquilo me convenceu. Talvez eu precisava de algo que fosse um teste, um desafio. Só sei que minutos depois de ver o anúncio eu estava nesse tal de CrossFit.
Em meu primeiro WOD, pois é, descobri naquele momento que era assim que era chamado o exercício do dia. Tinha o nome de uma mulher, o que me fez pensar o porquê você daria um nome a um exercício e qual seria a razão de ser um nome feminino?
Levei 4 minutos e 59 segundos para responder estas perguntas. Ao completar a sequência, acredite, eu estava morrendo. Rapidamente me ficou claro o nome feminino. Usando o que o fundador disse uma vez, "aquilo que te deixa de costas no chão olhando para o céu e perguntando o que acabou de acontecer merece o nome de uma mulher".
Meninas após meninas. Amanda, Nicole e Fran. Pouco a pouco comecei a me sentir melhor e percebi que estava ficando realmente mais condicionado. Ao final de cada aula os alunos escreviam seus resultados em uma lousa, e foi em um destes momentos que soube o quanto amava aquilo.
Dai em diante levei a competição para outro patamar. Comecei a encarar o exercício como uma coisa séria. Toda vez que estava lá tinha de mostrar para mim mesmo e para os outros que podia fazer mais e que meu único inimigo era o relógio, o qual sempre queria vencer.
Durante um dos meus treinos decidi que estava pronto para ir para o Ranking da "box"- no CrossFit eles geralmente mantêm um quadro com os melhores tempos- então me preparei de todas as formas possíveis.
Eu tinha luvas, sapatos especiais, proteção para canela. Antes de começar decidi analisar meus competidores. Olhei para o lado e vi um "tiozão", provavelmente beirando seus 50 anos, não parecia ser o mais em forma, mas lá estava ele, tentando fazer o seu melhor. Ao lado dele um jovem, bem magro, logo pensei, esse já ganhei. Os outros pareciam pessoas normais sem nenhum aspecto atlético que chamasse atenção.
"3,2,1 VAI!". O "coach" gritou no meio da sala e não havia mais tempo para análises. O relógio estava voando e tudo que devia fazer eram 100 barras, 100 flexões, 100 abdominais e 100 agachamentos. Ou como eles a chamam, "Angie". Comecei com tudo, e na minha cabeça já conseguia ver meu nome no tão esperado ranking.
Mas então, no momento em que estava começando meus agachamentos- meus olhos estavam fechados porque tudo que queria era que esse WOD acabasse- eu ouvi uma voz gritando "Vamos lá, você consegue. Se eu terminei você também consegue!".
Eu estava com medo de abrir os olhos e ver alguém que não fosse meu coach porque isso significaria que não teria sido o primeiro. E ainda mais assustadora era a ideia de ver qualquer dos outros alunos, que tanto subestimei no início da aula.
A hora da verdade tinha chegado, respirei fundo, abri os olhos e lá estava ele na minha frente. O não tão mais "tiozão" torcendo aos berros como se ele nem estivesse cansado. De verdade eu queria, naquele momento, "socar" a cara dele.
Porém, a medida que os agachamentos foram ficando mais difíceis, percebi que ele estava lá para me ajudar a terminar a série e não deixar que eu desistisse. E nesse exato momento eu entendi o verdadeiro significado do CrossFit.
CrossFit é muito mais que seu arranque de 100 kg. Muito mais que sua "Fran" abaixo de 3 minutos ou seu "Nano 8.0". Aliás, muito mais do que apenas estar em forma.
O CrossFit me ensinou que, primeiramente, devemos ter humildade o suficiente para entender que você pode até ser melhor que alguém, porém haverá sempre alguém melhor que você. Este é apenas um dos poucos aprendizados que aprendi no último local que esperava encontrar lições de vida.
Todos os dias nós temos a oportunidade de fazer algo grandisoso com nossas vidas e porque não o quanto antes possível?
Te encontro amanhã na CFP9?