4 Passos para Mudar de Vida

Rápido, prático, autossuficiente e de preferência que eu possa fazer pela internet não é?

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A maior parte das pessoas, hoje em dia, deseja receitas e passos a passos para tudo em suas vidas. O leitor que busca nesse texto essa solução ficará altamente decepcionado.

Mudar de vida é uma experiência pessoal que só é possível ser feita por e para si mesmo. Com certeza, você já passou por essa experiência em alguma fase de sua vida, mesmo que de forma rudimentar, quando criança, adolescente ou adulto. Você já mudou de vida em algum momento.

Por aqui, a real forma de aprender, tirar algo desse texto, é através da discussão da prática dessa arte de mudar vidas.

Os passos na direção de uma vida nova podem ser dados cada um por si, sendo que todos começam com a consciência desse fato. O grande problema é que normalmente desistimos antes mesmo de conversarmos sobre o problema.

Portanto vá em frente, termine este texto. Liberte-se das receitas de bolo e inicie aqui comigo, uma discussão útil para o domínio de uma nova arte em sua vida.

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Vamos começar por entender que o domínio de qualquer arte tem certas demandas, independente do campo a ser explorado.

A arte da medicina, música, dança, ou de mudar vidas. Não é fácil, nem acontece do dia para noite.

A primeira exigência de uma arte é a disciplina.

É verdade que você nunca conseguirá ser bom em nada se não tiver disciplina. Imagine que você só faz “o que está afim”, se entrega apenas para seus hobbies e para as coisas que te divertem. Por mais que às vezes isso seja necessário, não é assim que você irá se tornar referência em algo para sua comunidade.

E o problema maior não é só a disciplina necessária para a prática, ou seja, um número de horas reservado por dia para alguma coisa. Para mudar sua vida, você deve ter disciplina por toda sua jornada. Não é um destino, é um processo pela vida inteira.

Mas hoje em dia você já não vive sobre uma alta pressão da disciplina? Provavelmente oito horas diárias em um emprego altamente rotinizado faz parte de seu dia-a-dia. Então não seria tão difícil ser disciplinado fora dele?

Errado. Exatamente por se sentir engessado em grande parte de seu dia, quando não está a trabalhar, o ser humano deseja “relaxar”, ficar a toa ou se divertir.

Esse desejo “de fazer algo diferente” é uma resposta a rotina de sua vida. Exatamente por se ver “gastando” oito horas de sua vida em coisas que te tornam responsável e dedicado, você se permite assumir uma forma de rebelião que mais se parece com desejos infantis. Não existe reflexão ou aproveitamento nas experiências fora do trabalho. A ideia é só sair da realidade e desligar a mente.

Bebida, balada, Netflix, Instagram, Tinder e sexo sem compromisso.

Porém, sem disciplina a vida começa a se tornar confusa, vazia. Cada vez você se concentra menos naquilo que um dia sonhou como seu ideal de vida.

E sem concentração não existe maestria em nenhum tipo de arte, muito menos na da mudança de vida. Chegamos ao nosso segundo ponto: concentração.

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Se você já tentou aprender algo significativo em sua vida sabe o que estou falando, porém, na cultura do imediatismo, concentração é algo ainda mais raro que autodisciplina.

Em terras de mídia social, nossa vida é cada vez mais interrompida por apitos e notificações. Fazemos muitas coisas ao mesmo tempo: sorrimos, conversamos, digitamos, concordamos, fumamos, bebemos e cantamos.

Estamos sempre online e prontos para absorver tudo. E assim, a falta de concentração fica especialmente nítida quando temos de ficar a sós com nós mesmos. A gente nunca mais jantou a dois. Hoje somos eu, você e mais 2 IPhones.

Sentar sossegado na sacada,(sem falar, olhar em uma tela, fumar ou beber) é impossível para maior parte de quem está lendo esse texto.

Você é daqueles que fica nervoso só ao ler esse parágrafo aí acima e começa a sentir necessidade de fazer algo só por imaginar ter que ficar sozinho? Só um cigarrinho... vamos ocupar a boca, a mão, os olhos e o nariz seus e de quem deve dividir sua fumaça não é?

E se não bastasse a concentração, prepare-se. Agora vou te pedir um terceiro elemento: paciência.

Por acaso você aprendeu a ser um bom CrossFiteiro e conquistou todos os movimentos em 1 mês? Não. Ser paciente é uma característica primordial para o domínio de uma arte. Se você busca resultados imediatos nunca irá aprender uma.

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Disciplina, concentração e agora paciência Viana?

Para o homem moderno isso é ir contra seu sistema, é ser “não produtivo”. As pessoas querem rapidez. Quanto mais depressa melhor. Vamos produzir a mesma quantidade mas na metade do tempo e assim que conseguirmos, iremos nos livrar da versão anterior. Mas você já pensou que a versão anterior pode ter sentimentos? Ser de carne e osso?

E pensando na política do “mais novo é melhor” nossos valores humanos acabam sendo dominados pelas verdades absolutas da economia da otimização. A máxima pela qual atualmente vivemos diz que o que é bom para os negócios tem de ser bom para os homens.

Se não estamos fazendo depressa, emagrecendo rápido, aprendendo ou ganhando mais, estamos perdendo alguma coisa... mas o que será? Acho que já sei! Estamos desperdiçando tempo.

Mas ai volto a questão de que fazemos sobrar tempo para apenas podermos matá-lo, de formas capazes de nos fazer fugir da realidade.

Porque não ir mais devagar? Dar tempo para você se conhecer no processo. Apreciar. Vivenciar. Tocar. Sentir.

Por fim, para aprender uma arte precisamos de um último fator: ter uma preocupação extrema com a excelência da técnica em questão. Se não for importante para você, esqueça, você nunca vai aprender.

Você saberá falar sobre o assunto, talvez demonstrar uma coisa ou outra, mas isso será tudo. O problema é que todo mundo sabe te dar um dica quando o assunto é a mudança de vida. Mas sabem eles fazer isso acontecer? “Se eu quisesse eu faria...” diz sempre o que nunca teve capacidade.

A verdade é que para aprender uma arte, você deve se entregar a um número de diversas outras coisas, que por muitas vezes não parecem ter nenhuma ligação com o conhecimento direto, mas que irá se encaixar quando você menos esperar.

Aprender sobre alimentação saudável pode não ter uma ligação direta para o tipo de mudança de vida que você procura. Talvez o relacionamento humano não tenha tamanha importância em sua jornada atual. Ou mesmo a atividade física não seja o objeto direto da busca imediata.

Porém, ligados, eles tomam um novo significado.

Se você quer mudar sua vida, entenda que terá que dedicar todo seu caminho ao seu objetivo. Você mesmo irá se tornar um instrumento da prática dessa arte e terá que estar sempre preparado para desempenhar as funções específicas que ela te impõe.

Quem deseja se tornar um mestre na arte de mudar vidas tem que começar praticando a disciplina, a concentração e a paciência ao longo de todas as fases de sua vida.

Hoje, amanhã e para sempre. E não pode ser de qualquer jeito. Tem de haver um grau de “querência” elevado. Uma dedicação fora da curva. Tem que ser diferente de todo mundo que anda fazendo as coisas da mesma maneira. Tem que ser mais que CrossFit.

Como se pratica disciplina? Comece acordando todos os dias na mesma hora. Dedique regularmente parte de seu dia a meditação, leitura, música, exercícios, interação com o próximo. Não se entregue além do limite aos prazeres do mundo moderno. Não faça nada demais.

No final, a disciplina não deve ser algo advindo de um texto, de uma cobrança de seus pais ou de seu grupo. Disciplina deve ser um grito de dentro, uma expressão de sua vontade própria. Você faz porque quer ser alguém melhor, no corpo e na alma.

Já a concentração é de longe, a tarefa mais difícil em nosso mundo de Instagram. Você já parou quantas vezes de ler esse texto até aqui?

Comece ficando sozinho. Você e sua mente em um local que te acalme. No final, ser capaz de se concentrar diz respeito a sua capacidade de ficar com você mesmo.

Se sou apegado a uma outra pessoa, ou a uma válvula de escape qualquer, essa pessoa ou objeto pode ser um salva-vidas para mim, mas o relacionamento que temos não é positivo se eu for dependente.

Quem procurar tentar ficar sozinho vai perceber o quanto isso é difícil. Provavelmente no começo você irá ficar ansioso, inquieto e até mesmo incomodado. Possivelmente irá pensar nesse texto bobo que você leu e justificar para si mesmo que “isso não vai me levar a nada”.

Vai perceber que todo tipo de pensamento começa a te dominar: os planos para mais tarde, o celular que não vê a hora de olhar, a balada que tem de combinar ou qualquer coisa que realmente não importa mas que você super considera mais importante do que conhecer a si mesmo.

Nessa hora, feche os olhos, respire fundo e tenha a sensação do “eu”. Você como dono de sua vida, de suas vontades e criador de seu mundo.

A partir disso, tudo que você fizer, deve exigir de si mesmo esse alto grau de concentração. Até mesmo as coisas menos importantes adquirem uma nova dimensão uma vez que recebe toda sua atenção. Evite as conversas triviais, aquelas que não são de verdade.

 Não existe assunto bobo ou altamente intelectual, existe muito mais a verdade na forma como está sendo dito e ouvido. Existe um grau de investimento pessoal em toda troca genuína. Ouça de coração aberto quem realmente quer falar.

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Evite assim as más companhias. Pessoas má intencionadas e destrutivas. Aquelas que sempre te convidam para dividir miséria. Evite os zumbis, aqueles no qual o corpo está vivo, dançando e bebendo, mas que a alma está morta quando chega a hora de conversar de algo que não seja a noitada anterior. Fuja também dos tagarelaras e fofoqueiros, que emitem sons mas não trocam palavras a não serem opinões estereotipadas.

Se não for possível evitá-los, então seja real em sua presença. Se você não reagir da forma como elas esperam, (concordando e rindo de suas opiniões sem pensamento) elas aos poucos irão se distanciar.

Concentrar sua atenção em relação aos outros é primordialmente sua capacidade em ouvir. A maioria das pessoas escuta os outros e até dá conselhos mas não conseguem ouvir de verdade.

Na verdade não levam a sério o que a pessoa fala nem menos o que respondem. Sendo assim, logo ficam cansados da conversa. E acham que ficariam ainda mais cansadas se estivessem ouvindo de verdade.

Mas a verdade é exatamente o contrário. Qualquer atividade, se feita de forma concentrada, faz você se sentir mais desperto.

Concentrar significa viver plenamente o presente e não pensar no que tenho que fazer daqui a uma hora.

Aprenda a concentrar sua atenção aos outros sem precisar fugir das diversas maneiras que o mundo atual nos “liberta”. Se fizer isso, vai perceber quão fácil é memorizar um nome da próxima vez que ouvi-lo de verdade.

E para finalizar, tenha paciência. Pense que você é uma criança aprendendo a andar. Ou um sedentário tentando aprender uma muscle-up. Você vai cair, chorar, não conseguir bem passar seu queixo da barra. Mas aos poucos vai melhorando, até que um dia conecta 10 repetições sem soltar a argola.

Lembre-se que é impossível aprender a ser paciente sem que você seja sensível a você mesmo. Conheça você mesmo da mesma forma como sabe todos seus Pr’s.

Imagine que você é seu carro novo. Qualquer barulhinho, tremor, ou arranhão é reconhecido de imediato. Pense em você como uma mãe que nota uma dobra a mais na pele de seu filho.

Tenha consciência e sensibilidade não apenas com seu corpo. É fácil notar uma dor física, agora quanto demoramos para sentir os sintomas da alma?

Mais do que transmitir apenas conhecimento, a arte de mudar vidas exige que você que você reflita certas atitudes humanas. Tenha paciência e conheça a si mesmo para ser capaz de atingir esse estágio.

Não busque apenas demonstrar o quanto seu corpo pode, sua força é capaz ou sua condição econômica tornou tudo possível. Não busque transmitir isso como principal objetivo de sua vida. Não existe arte nisso.

Mais do que isso, vá em busca de passar características humanas válidas para aqueles ao seu lado. Busque o amor. Receba-o e depois o transmita.

Enfim, mude vidas começando pela sua. Hoje, aqui e agora.

* Texto inspirado no livro de Erich Froom: “The Art of Love”.